quarta-feira, 4 de março de 2009

Cirurgia contra obesidade pode eliminar diabetes tipo 2

A cirurgia bariátrica já provou sua eficiência na melhora do diabete tipo 2 em obesos, mas começa a ser empregada em pessoas que não são tão gordas.


A ciência se prepara para ampliar sua ação contra o diabete. E quem está na mira desta vez são os diabéticos tipo 2 não obesos até mesmo pessoas com 15, 16, 20 quilos acima do ideal. O que os médicos buscam é comprovar que a cirurgia bariátrica, velha conhecida e nem um pouco experimental, servirá também para essa gente num futuro próximo.

A idéia, portanto, é não mais restringir a operação a pacientes com índice de massa corpórea, o IMC, acima de 35, como acontece hoje em dia. Ora, há no Brasil entre 6 e 8 milhões de diabéticos tipo 2 e apenas 25% deles possuem IMC acima de 35. Por isso nosso foco agora são os 60% de diabéticos tipo 2 com índice entre 28 e 35, declara José Carlos Pareja, pesquisador e chefe do Serviço de Cirurgia de Obesidade da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, que fica no interior paulista.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o número de diabéticos do tipo 2 deve dobrar até 2030, atingindo 4,4% da população do planeta, ou seja, alarmantes 366 milhões de pessoas. Já se sabe que o excesso de gordura associado aos maus hábitos alimentares e ao sedentarismo detona o mal em quem tem predisposição.

Os quilos a mais também aumentam o risco de doenças cardiovasculares e articulares. Não à toa, os obesos severos e com diabetes foram os primeiros a se beneficiar da cirurgia que reduz o estômago. Mas, antes mesmo de o paciente operado perder peso, notávamos uma espantosa melhora do quadro de diabete, como uma espécie de conseqüência, diz Pareja. Isso nos abriu os olhos para a possibilidade de usar o mesmo procedimento em diabéticos com obesidade moderada, completa ele, que lidera um dos grupos pioneiros nessa investigação.

Para Luiz Vicente Berti, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, se os estudos iniciais confirmarem que a operação é a saída para o diabetes, inclusive em pacientes mais magros, a Medicina terá dado um grande salto. Aí as técnicas cirúrgicas atenderão a pacientes que resistem ao tratamento, não controlam a doença como deveriam e não têm acesso constante a especialistas, remédios e cuidados.

As primeiras cirurgias bariátricas, voltadas apenas para os pacientes com obesidade mórbida, visavam reduzir o estômago. As pessoas operadas podiam comer de tudo, só que logo se saciavam e, ainda por cima, nem todos os nutrientes eram aborvidos de modo que, óbvio, emagreciam. Mas, claro, isso também trazia inúmeras complicações. Mais recentemente surgiram vários modelos cirúrgicos, entre eles alguns que mexiam um pouco no intestino e um pouco no estômago.

Alguns deles mostraram que a melhora do diabetes acontecia mais rápido do que a perda de peso, conta Sérgio Santoro, cirurgião do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. É porque essas técnicas alteram a produção dos hormônios do intestino, tanto os responsáveis por reduzir o estímulo para começar a comer como os que levam à saciedade. E isso tudo acaba intensificando a produção de insulina. Ou seja, o diabetes melhora. Ou some.

Em pacientes com IMC maior que 35 os gordos pra valer a reversão da doença gira de 70% a 75%. O resultado é bom não só em relação ao diabetes, mas à queda da pressão arterial, dos triglicérides e do colesterol direcionou as últimas pesquisas aos indivíduos com IMC entre 30 e 35 e até àqueles cujo índice ficava abaixo de 30. Para Santoro, tudo indica que essas técnicas, que se mostraram eficazes nos obesos severos, também vão funcionar em quem tem IMC menor que 35.

Mas ainda há dúvida se funcionarão em pessoas com IMC inferior a 25, uma vez que o risco em pacientes não obesos é muito maior, alerta. Já quando a obesidade é moderada, todas as técnicas de cirurgia bariátrica funcionam. Só que ainda não temos dados suficientes para afirmar qual delas é a melhor. Tudo isso demanda tempo, acompanhamento, protocolos de estudo. Temos ainda um bom caminho a percorrer.

E há outro detalhe: não pense que esses procedimentos serão indicados para todos os diabéticos do tipo 2. O diabetes vai se tornando mais complexo à medida que nos aproximamos de índices normais de peso, isto é, IMC entre 18 e 25, expõe Pareja. O diabético que é obeso mórbido tem uma clara resistência à insulina causada pela gordura que se acumula. No magro, os fatores que levaram à doença passam longe do excesso de gordura, lembra Pareja. Ainda não sabemos por que a resistência ao hormônio se instala em quem é magro. Existem os componentes genéticos e inúmeras outras questões.

Outro aspecto que pode contra-indicar quaisquer das técnicas bariátricas diz respeito à própria doença e à sua evolução em cada paciente. Algumas formas do diabetes 2 se parecem muito com o tipo 1, dependente de insulina. Outras têm características de ambas. É preciso primeiro identificar com precisão em qual perfil o doente se encaixa para depois saber se ele poderá ou não se submeter a uma operação dessas, diz Santoro.

Para Ricardo Cohen, doutor em cirurgia pela Universidade de São Paulo e um dos médicos que testam a operação em pacientes com IMC abaixo de 30, existe mais um complicador: Os níveis de peptídeo C também indicam se a cirurgia pode ser a saída ou não. A dosagem da substância determina se o diabético ainda é capaz de fabricar insulina. Se não for mais, porque desenvolveu o diabetes tipo 2 há muito tempo, a cirurgia bariátrica já não servirá para ele, resume.

Enquanto os cientistas aguardam mais estudos para descobrir se as cirurgias de redução do aparelho digestivo podem beneficiar diabéticos não obesos, surgem especulações sobre as vantagens de encarar o bisturi para combater um mal que, teoricamente, poderia melhorar com mudanças positivas de hábito e um tratamento menos agressivo.

O médico Sérgio Santoro lembra, porém, que o diabetes tipo 2 está entre as doenças mais caras. Ele é progressivo e o paciente gasta muito, entre medicamentos e internações, do seu bolso e do bolso do Estado. Os custos diretos e indiretos podem chegar, nos Estados Unidos, onde se fez a conta, a 200 bilhões de dólares a cada ano. Ou seja, a saída pelo centro cirúrgico pode, no final das contas, se mostrar relativamente mais econômica.

Santoro pondera ainda que o impacto das cirurgias no diabetes dependerá da técnica que vai se impor nos próximos anos. Se os modelos mais simples, com menores complicações nutricionais, se sobrepuserem, então veremos uma grande mudança de paradigma. Otimista, o médico Ricardo Cohen acredita que a cirurgia bariátrica possa ser útil, no futuro, a boa parte dos diabéticos tipo 2. A operação não servirá àqueles cujo controle da doença é bom, mas a uma grande maioria cerca de 60% dos doentes que falha no seu acompanhamento.


Por Vanessa de Sá / http://saude.abril.com.br

1 comentários:

aleixo disse...

A matéria que acabo de ler é sem dúvida uma das grandes descobertas científicas que, poderá vir a beneficiar mais de 366 milhões de pacientes no mundo inteiro nas próxima decadas. Sou um desses esperançosos a procura da cura científica para a minha hipertensão e o diabétes que me consomem a mais de 20 anos. Hoje com 66 anos,com estatura de 1,68m, 82kg, não consigo manter a normalidade dessas enfermidades, que estão em níveis elevados 21x13 e 370 a glicemia. Conto com os conhecimentos de Vossas Senhorias na busca incansável para a cura dessas moléstias que atormentam, segundo a matéria, mais de 366 milhões de pessoas em todo o mundo. Sejam felizes e que Deus os Abençoem nessas peesquisas. ab. aleixo

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